19/01/2011

Padrinhos pelo Afeto

Sem adotar, é possível se tornar referência emocional e proporcionar vida social fora dos abrigos para crianças
Francisco Alves Filho
LAÇOS
Renata Piza com as três irmãs que amadrinhou.
Ela virou referência para as meninas

Dos milhares de crianças à espera de adoção nos abrigos de todo o País, apenas uma pequena parcela consegue nova família. A maior parte continuará nas instituições por muitos anos, até chegar à maioridade e, assim, atravessar a porta de saída solitariamente. Não faltam pessoas que se comovam com esse drama, mas quem pensa em ajudar se depara com uma questão de difícil solução: o que fazer? Para os jovens que passam a infância e a adolescência sem referência familiar, uma contribuição em dinheiro é algo insuficiente, uma vez que sua principal carência é emocional. Mas nem todos estão preparados para adotá-los. Como resposta a esse impasse, uma iniciativa simples tem dado resultados gratificantes tanto para as crianças quanto para os adultos que se mostram solidários. É o apadrinhamento afetivo, no qual o adulto passa a acompanhar o cotidiano da criança, sua rotina escolar, pode levá-la para passear e apoiá-la em momentos difíceis – tudo sem adotá-la. “Para a criança apadrinhada, é importante porque ela passa a ter uma referência afetiva, sente que alguém se importa com ela e não se vê mais como apenas mais uma na multidão”, explica a psicóloga Edna Orlando, da ONG Quintal da Casa de Ana, em Niterói, Rio de Janeiro, uma das primeiras do Brasil a colocar em prática a ideia. “Para os padrinhos, é gratificante ver como um pouco de afeto pode fazer tanta diferença na vida dos pequenos”, diz.

CURSO
Quem quer ser padrinho passa por um período preparatório

A ideia nasceu dos movimentos de pais adotivos, que constataram a situação das crianças que vivem em abrigos com mais de 5 anos, quando as adoções passam a ser algo raro. Notou-se que muitas chegavam aos 18 anos abandonadas nessas instituições, sem ter noção de família ou sem ter alguém que se preocupasse com sua individualidade. “Com o apadrinhamento afetivo, elas passam a ter referência familiar e vida social fora das instituições”, diz Bárbara Toledo, presidente da Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção.

A servidora pública Renata de Toledo Piza, 35 anos, é madrinha de três irmãs de 8, 10 e 12 anos, que vivem num abrigo. Depois de terminar um casamento de oito anos e sem filhos, ela resolveu que queria desempenhar o papel de mãe. Pensava em adotar uma criança, quando teve conhecimento do apadrinhamento afetivo e gostou da ideia. Passou por um período preparatório até que apareceram três crianças em condições de serem apadrinhadas. “Fui ver as meninas, eram irmãs. Não poderia separá-las e resolvi ser madrinha das três”, conta ela. Esse relacionamento começou há pouco mais de três meses e quem as conhece garante que já surtiu efeito sobre o comportamento delas. As funcionárias do abrigo dizem que a autoestima das garotas aumentou e que estão mais aplicadas no estudo. “As meninas me mostram os cadernos, noto que até a relação entre elas melhorou”, diz Renata, que já conseguiu autorização para passar um fim de semana com elas e levou-as para passear pelo Rio de Janeiro. “Eu disse que podem contar comigo para a vida toda, mesmo se forem adotadas um dia.”

Em vários Estados brasileiros há instituições que promovem esse tipo de apadrinhamento. É um gesto viável mesmo para quem não tem muitos recursos financeiros. “Não é como aquele tipo de ajuda em que a pessoa dá um brinquedo ou uma roupa no Natal ou no Dia das Crianças e vai embora”, explica Luciane Scheidt, do Projeto Recriar, de Curitiba. “Os abrigos cuidam dessa parte material. O que as crianças precisam mesmo é de alguém que dê atenção ao lado emocional.” É essa a função exercida por Sirlei Azevedo, 58 anos. Ela já é madrinha de uma menina do Projeto Recriar e antes já teve outros dois afilhados. “Dou apenas o meu tempo e o carinho e em troca recebo algo maravilhoso, que é o reconhecimento dessas crianças”, diz ela. “Nunca mais vou ficar sem afilhados.”

Alguns padrinhos criam vínculos afetivos tão grandes com os afilhados que não querem mais romper. Foi assim com a securitária Conceição da Silva, 42 anos, que resolveu ser madrinha de dois meninos, de 16 e 13 anos. “Eles passam a se mostrar mais confiantes, se esforçam mais para estudar, brincam mais”, conta ela. “É um aprendizado para os dois lados. Com o tempo, fui vendo que eles não pedem nada de material, apenas carinho, querem alguém que se importe com eles.” Ela e seu marido gostaram tanto da experiência que resolveram adotar os dois.

A psicóloga Edna, no entanto, alerta: o apadrinhamento afetivo não pode ser encarado como um teste para a adoção. “Se elas não são adotadas, ficam muito frustradas”, explica ela. “Desde o início, explicamos a elas que aquelas pessoas são padrinhos, que elas verão apenas alguns dias na semana. Isso evita falsas expectativas.” Além disso, é preciso que o candidato a padrinho se comprometa a manter um relacionamento longo com a criança escolhida. Todos esses detalhes são explicados a quem pretende ter um afilhado e, de maneira geral, as regras têm sido seguidas. O apadrinhamento afetivo tem servido como solução a centenas de pessoas que queriam ajudar as crianças abandonadas e não sabiam como.



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18/01/2011

Vagas Abertas para Psicólogos, Pedagogos e Psicomotricistas

O Instituto Brasileiro de Transformação Social (IBTS), que desenvolve trabalhos nas instituições de acolhimento parceiras do Programa HSBC Educação, está selecionando para início imediato (CLT/ Autônomo/ Estagiário): psicólogos, pedagogos / psicopedagogos e psicomotricistas que se identifiquem com a causa e possam, com seus conhecimentos, colaborar no trabalho.

ÁREAS DE ATUAÇÃO:
- Psicomotricidade
- Alfabetização
- Orientação Profissional
- Práticas Educativas
- Estimulação Precoce
- Treinamento
- Habilidades Sociais
Caso tenha interesse, favor encaminhar seu currículo para: tanielle@transformacaosocial.org.br