Dislexia afeta 7% das crianças
Quanto antes for identificado o transtorno, menores os prejuízos acadêmicos, sociais e psicológicos para crianças e suas famílias
Quando a mãe de Yan, 7 anos, descobriu que o filho tinha dislexia, o menino já
havia mudado de escola três vezes por causa de dificuldades no aprendizado. A
identificação do problema foi o caminho para que ele finalmente começasse a
evoluir nos estudos. Refeitas com um novo método, suas provas que antes tinham
notas baixas hoje têm 9 ou 10, resultados que restituíram o interesse pela
escola e a aceitação dos colegas.
A história de Yan não é um caso isolado. A dislexia afeta cerca de 7% das
crianças, a maioria meninos. Apesar da grande incidência, muitas escolas e
professores ainda não estão preparados para lidar com esse transtorno, de
difícil diagnóstico. De origem neurobiológica e genética, a dislexia pode
comprometer o desenvolvimento das habilidades de escrita, decodificação e
pronunciação das palavras. Se tratado a tempo, no entanto, o distúrbio não chega
a prejudicar a aprendizagem das crianças.
Todos os meses cerca de 2 mil pessoas procuram a Associação Brasileira de
Dislexia (ABD), em São Paulo, em busca de mais informações sobre o transtorno.
Em geral, os pais decidem investigar o problema quando a criança já teve alguns
anos de escolarização, com desempenho escolar ruim, dificuldades de socialização
e baixa autoestima. Nesse cenário, a descoberta de que a criança poderá superar
esses obstáculos é um alívio para muitas famílias.
“O disléxico evolui de forma consistente se conta com um acompanhamento
adequado”, diz a neuropsicóloga da ABD Maria Inez Ocanã De Luca. De acordo com a
especialista, o estudante com dislexia deve estar inserido na sala de aula
comum, com pequenas mudanças. “A prova escrita, por exemplo, não é o melhor
método. É mais indicado fazer o exame em uma sala em separado, com alguém lendo
as questões e com tempo maior para que elas sejam respondidas”, afirma.
Assim como os óculos auxiliam quem não enxerga bem e as muletas são
importantes para quem tem mobilidade reduzida, os disléxicos também precisam de
instrumentos pedagógicos para enfrentar seus limites. A neuropediatra Mauren
Bodanese explica que esse entendimento é fundamental no acompanhamento dessas
crianças, e que as escolas precisam estar dispostas a ajudar. “Enquanto a
criança não adquirir a habilidade da leitura e interpretação, como vai ser
avaliada no que não sabe fazer? Não é como colocar o cadeirante no colo, mas
disponibilizar uma rampa para ele subir”, diz.
Além do acompanhamento adequado, família e escola precisam trabalhar juntas. Na
opinião de Fátima Minetto, mestre em Educação e doutora em Psicologia, é
necessário que os responsáveis pela criança compreendam a dislexia e saibam como
agir. “Não saber do diagnóstico do filho faz com que a criança se construa pelo
olhar da angústia dos pais. Isso dificulta que um adulto com dislexia tenha uma
vida normal e capaz”, alerta.
Com a suspeita de dislexia, a criança precisa de atendimento
especializado. Veja o que fazer:
- Para a Associação Brasileira de Dislexia, o ideal é que a criança seja
levada a atendimento especializado após o início da escolarização, quando ela
começa a ter dificuldades para escrever ou na compreensão de textos.
- Descartada a falha pedagógica da escola, é preciso buscar ajuda
profissional. A orientação de um neuropediatra é importante para descartar
outros problemas, como deficiência intelectual.
- Em uma avaliação multidisciplinar, exames de exclusão devem ser feitos,
como os que verificam deficiências auditivas e visuais, lesões cerebrais e
desordens afetivas. Vários profissionais fazem esse trabalho, como
fonoaudiólogos e psicopedagogos. Quando há prejuízo emocional, o acompanhamento
psicológico é fundamental.
- Além de contar com um ambiente de leitura adequado em casa, silencioso e
sem distrações no entorno, as crianças devem saber que têm a dislexia. Assim,
podem entender o motivo de suas dificuldades e saber reagir perante as prováveis
dificuldades com os estudos e colegas.
- A escola deve atender de forma diferenciada os alunos com dislexia, como é
previsto por lei. As modificações vão desde a oferta de tarefas e avaliações
diferenciadas, às vezes em forma oral, até mais tempo para a resolução.
- Os pais precisam ser os principais aliados. Além de terem paciência nos
momentos de lição de casa e de incentivarem o aprendizado, especialistas sugerem
que os pontos positivos da criança sejam elogiados, como os desenhos bonitos que
faz, o comportamento atencioso com colegas, a ajuda em casa etc.
Bê a bá da Dislexia
Confira os sinais mais comuns desse transtorno de aprendizagem nas
crianças:
- Na escrita, troca letras, junta palavras que são escritas separadas e
separa as que são escritas juntas. Copiar do quadro ou do livro é
desgastante.
- O disléxico tem prejuízo da coordenação motora fina, letra feia e irregular
e dificuldade para passar da letra de forma para a de mão ou cursiva.
- É mais complicado para aprender Matemática, decorar a tabuada e entender os
enunciados de problemas. É difícil conseguir a compreensão e reter informações
na leitura.
- A compreensão de textos é difícil, a criança se sai melhor quando ouve a
história e também se expressa melhor oralmente que na escrita.
- Como tem confusa a relação entre as partes, não consegue montar
quebra-cabeças com a mesma destreza que outros da sua idade.
- É desatenta e dispersa. Cansa e abandona ações antes de completá-las. Tem
vocabulário pobre.
- Demonstra má vontade na hora de ir para a aula. Pode faltar e esquecer
propositalmente materiais em casa para que não percebam que não conseguiu fazer
a tarefa.
- Aprender inglês é muito difícil, disléxicos do mundo todo sofrem com isso.
Já com idiomas como italiano e espanhol o aprendizado é mais fácil, pois é mais
coerente a relação entre som e grafia.
- Se a pessoa cresce sem ser diagnosticada, geralmente começa a investigar o
que está atrapalhando seu desenvolvimento no trabalho, na faculdade ou quando
vai prestar vestibular e concursos.
- Tem dificuldade com rimas, para soletrar, separar e sequenciar sons ou em
discriminar fonemas homorgânicos (p-b, t-d, f-v, k-g, x-j, s-z).
Confira sites e livros que abordam o tema:
Sites:
Associação Nacional de Dislexia: http://www.andislexia.org.br/
Associação Brasileira de Dislexia: http://www.dislexia.org.br/
Livros:
A vida secreta da criança com dislexia, de Robert Frank
A dislexia em questão, de Giselle Massi
Aprendizado e suas desabilidades - Como lidar?, de Abram Topczewski
Manual dos Transtornos Escolares, de Gustavo Teixeira
Fonte: Gazeta do Povo
Publicado em 02/04/2013 | Adriana Czelusniak
http://www.gazetadopovo.com.br/ensino/conteudo.phtml?tl=1&id=1359103&tit=Dislexia-afeta-7-das-criancas
Publicado em 02/04/2013 | Adriana Czelusniak
http://www.gazetadopovo.com.br/ensino/conteudo.phtml?tl=1&id=1359103&tit=Dislexia-afeta-7-das-criancas
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